Livresco’s Weblog

O que vou lendo por ai…

Baptista-Bastos: Olhem bem para os olhos dela

Esvoaça, embora discreto e módico, o perfume do poder e já o alvoroço se instalou nos militantes do PSD. Nos fóruns das rádios e das televisões, nos debates, nos artigos, nas preposições do Pacheco Pereira os sentimentos dominantes medeiam entre a glória do mando e o revanchismo. A euforia nunca foi boa conselheira. O próprio significado da palavra suscita precauções. Mas é preciso conhecer o significado da palavra.

O PSD, como se sabe, é constituído por uma série de ilhas, num oceano de atritos. O recente golpe de karaté aplicado pela dr.ª Manuela ao pobre Passos Coelho é paradigmático. O homem não foi, somente, afastado; foi vexado sem clemência. A senhora não abole distâncias: cria-as. Funcionando por exclusões, interdita, primeiro, qualquer veleidade de ascensão daqueles que a ela se opuseram; depois, cultiva o tribalismo, que desencoraja a mínima hipótese de dissenção. Naturalmente, esta prática despreza a ética.

O que se prepara, no caso (pouco provável) de José Sócrates perder as eleições é a aplicação de uma teia reticular de interesses particulares sobre o edifício do Estado. O PSD não dispõe de nenhuma estratégia de Governo. As soluções que vagamente expõe são as tradicionais da Direita. Qualquer preocupação de justiça é eliminada; as privatizações multiplicar-se-ão; a Saúde pertencerá às seguradoras com intervenção mínima do Estado, que será reduzido em todos os sectores da sociedade; aumento de impostos, mais repressão no mundo do trabalho. Nada de novo.

A dr.ª Manuela não alimenta o segredo das paixões. Nada promete que nos alivie do rude peso que, sabe-se lá como?!, tem sobrevivido a todas as penúrias impostas. Porque não haverá alterações de fundo, nem sequer remendos mal cerzidos, às avarias sociais de que temos sido vítimas. A responsabilidade do que nos acontece também terá de ser assacada ao PSD. Não há inocentes neste drama. O PS talvez tenha um comportamento menos brutal; porém, nunca concebeu ou estimulou uma consciência ética e estética que se prolongasse para além de si mesmo. Não é de estranhar que a dr.ª Manuela ameace rasgar um número ainda desconhecido, mas certamente vultoso, de decisões tomadas pelo Executivo Sócrates, caso seja “distinguida com o Governo” [sic].

Se há, manifestamente, uma tendência nos jornais, nas rádios, nas televisões e nas sondagens para se inflectir no PSD, isso deve-se mais ao desencanto que o PS provocou do que a méritos da dr.ª Manuela. A senhora é, rigorosamente, o que aparenta. E nada de bom se adivinha nessa aparência: algo de anacrónico, de deformado, incapaz de esboçar os contornos de uma sociedade mais justa.

Olhem bem para os olhos dela. Está lá tudo o que assusta.

Fonte: Diário de Notícias de 08.07.2009

08/07/2009 Posted by | Política: artigos de opinião | , , | Deixe um comentário

Do Blog O país do Burro: De que se queixa este povo?

José Silva Lopes, que recentemente fez a proposta genial de reduzir salários como estratégia para contornar uma crise originada por deficiências na procura, teve uma vida bafejada por cargos de nomeação política que lhe possibilitaram coleccionar reformas chorudas: entre outros, foi administrador da Caixa Geral de Depósitos, Presidente do Conselho de Administração do Montepio Geral, Ministro das Finanças, Ministro do Comércio Externo, Director do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério das Finanças e Governador do Banco de Portugal.

Há precisamente um ano e um dia, juntou ao seu pecúlio mais uma fonte de rendimentos: no vigor da juventude dos seus 76 anos, reformado, foi renovar o Conselho de Administração da EDP Renováveis. Há muitos outros casos semelhantes a este. O resultado de quaisquer eleições é também manifestação de vontade dos portugueses de que querem manter esta tradição de rateio de cargos entre personalidades do PS e do PSD que, graças aos seus votos e à sua abstenção, dura há mais de 35 anos. Os contemplados têm retribuído com a promoção e defesa intransigente de um modelo de salários baixos bastante diferente daquele que reclamam para si próprios. Detalhe curioso, os portugueses ainda tremem quando os ameaçam com a instabilidade e com a continuidade que sairia beliscada se o seu voto indicasse outro rumo para Portugal que não PS e que não PSD. Alguns gritam. Chega-lhes. Outros ainda inventam a abstenção como forma de protesto. De que se queixam?

Fonte: Blog O país do Burro

06/06/2009 Posted by | Política: artigos de opinião | | Deixe um comentário

Baptista-Bastos Escritor e jornalista – b.bastos@netcabo.pt: HOMENS SEM REINO

A governação está em banho-maria e José Sócrates anda pelo País a promover a moção que vai apresentar ao congresso do seu partido. No intervalo inaugura isto e aquilo, sempre coisas sem importância, e avisa que, futuramente, vêm aí toneladas de realizações destinadas à felicidade dos portugueses. Claro que quase ninguém acredita na suave bondade das promessas. Aliás, já quase ninguém acredita em nada. Mas aprendeu que a cupidez tem dado cobertura à mais ignara mediocridade. O panorama parece mavioso. O caso Freeport e as peripécias que envolvem o assunto Casa Pia transformaram as angústias quotidianas em factos desprezíveis. A verdade é que o Governo paralisou e os portugueses são homens sem reino. Despedidos aos milhares, tratados como subalternos, humilhados na mais rudimentar dignidade – sem que os seus gritos de desespero, as suas lágrimas excruciantes consigam congregar um feixe de energias.

Vemo-los e escutamo-los nas televisões, os retábulos modernos que condenam os homens e as mulheres a admitir o mundo tal como ele lhes é apresentado, e aprendemos que o medo impede tomadas de consciência e sufoca as manifestações da razão. Nada tem sido feito para inverter a tendência de uma crise nascida de um sistema em declínio. O Governo obedece, cegamente, às regras que tentam inserir-se no real, a fim de salvar o que sobra dos escombros. Cede à facilidade, e legitima decisões as mais asquerosas e danosas para a generalidade dos portugueses, apoiado numa maioria que, demonstradamente, não merece. Para que o embaraço continue, o ministro Santos Silva desencadeia novo alvoroço no partido, já de si tão ausente de convicções quanto repleto de oportunistas. Lembremo-nos de que o PS não pertence, apenas, ao “arco do poder”: é uma agência de empregos, tal como o PSD. O conflito com Manuel Alegre resulta de um acto de má educação, infelizmente comum ao ministro dos Assuntos Parlamentares. Porém, a peça mais relevante deste berbicacho é um artigo do eng. Henrique Neto, publicado no Jornal de Leiria. O conhecido empresário socialista reafirma, claramente, que vivemos na indiferença porque o medo está presente e a presença do medo dá azo à resignação. Mas se o PS não serve, o PSD serve ainda menos. É o nosso drama, porque nos inculcaram a ideia de que não há alternativa. Claro que há. Mas será que isso nos tem sido explicado? A comunicação social, no seu todo, tem cumprido, de facto, as funções para as quais está destinada? Penso o contrário. Todavia, as derivas, os compromissos e as malfeitorias daqueles dois partidos não justificam a nossa atonia cívica, a nossa falta de comparência política e moral, a abjecção da nossa passividade.

Fonte: Diário de Notícias de 11.02.2009

11/02/2009 Posted by | Uncategorized | , , , | Deixe um comentário

Deve ser para rir…: “Dias Loureiro não sabe explicar por que é que proprietários dos imóveis que integram o fundo entregaram a gestão à Valor Alternativo, tendo garantido à SIC não conhecer os envolvidos”

07 Dezembro 2008 – 00h30
Fundos: Imóveis comprados com alegados reembolsos fraudulentos de IVA
Loureiro levou Coelho para Valor
Jorge Coelho entrou no capital da Valor Alternativo, empresa que gere um fundo cujos titulares estão a ser investigados por burlas com o IVA, por sugestão de Dias Loureiro. O ex-ministro da Administração Interna do PS investiu cerca de cem mil euros, o que corresponde a uma participação de 7,5%. Dias Loureiro também é sócio minoritário, com uma quota de 30,5%.

A entrada do ex-ministro do Partido Socialista aconteceu já este ano, através Congetmark, numa candidatura aprovada em Maio pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Também Dias Loureiro entrou na Valor Alternativo, onde é chairman, através de uma empresa, a DL Gestão e Consultadoria, SA., em Agosto de 2007. O sócio maioritário é Rui Vilas, que é também presidente executivo e responsável pela gestão da empresa.

Ao que o CM apurou, quando os dois amigos (Loureiro e Coelho conhecem-se desde pequenos) entraram no capital da Valor Alternativo já estava a correr uma investigação aos participantes de um fundo (Valor Alcântara) por suspeita de burla com verbas do IVA, no âmbito de negócios de sucatas.

Estas verbas teriam sido depois branqueadas através da compra dos imóveis que integraram o Fundo Alcântara, de acordo com o jornal ‘Público’.

Os bens do fundo foram ‘imobilizados’ pelo Tribunal de Gondomar, que em despacho de Dezembro de 2007 voltou a entregar a gestão dos bens à Valor Alternativo, explicou ontem Dias Loureiro, em entrevista à SIC.

A investigação aos titulares dos fundos surpreenderia a Valor Alternativo, ainda de acordo com Dias Loureiro, que colaborou com a Justiça na entrega dos elementos pedidos. O fundo Valor Alcântara foi auditado pela Caixa Geral de Depósitos e registado com o aval da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários a 23 de Março de 2007.

A gestora do fundo garantia ontem, em comunicado, que “a gestão do fundo e a Valor Alternativo não foram objecto de qualquer processo judicial ou de outra natureza”.

VALOR APLICADO EM IMÓVEIS

A Valor Alternativo, que gere o fundo sob suspeita, foi criada em Novembro de 2003 e apresenta-se como uma sociedade gestora de activos financeiros que tem por finalidade retribuir retornos líquidos acima da média, assegurando uma “reduzida volatilidade”.

O fundo Valor Alcântara, que a Polícia Judiciária acredita ter sido financiado através de reembolsos ilícitos de IVA, foi criado em Maio de 2007. É composto por cerca de uma dezena de prédios, quase todos na região de Lisboa. A PJ acredita que parte do valor recebido foi utilizado na aquisição de imóveis.

PERFIS

DIAS LOUREIRO

Nasceu em Aguiar da Beira, foi ministro dos Assuntos Parlamentares no primeiro Governo de Cavaco, mas foi na Administração Interna que ganhou relevo, após o bloqueio da ponte 25 de Abril.

JORGE COELHO

Nasceu em Viseu, chegou ao Governo no mandato de Guterres como titular da Administração Interna. Seguiu-se a pasta das Obras Públicas. Demitiu-se após a queda da ponte de Entre-os-Rios.

DETALHES

CONTRATO

Dias Loureiro não sabe explicar por que é que proprietários dos imóveis que integram o fundo entregaram a gestão à Valor Alternativo, tendo garantido à SIC não conhecer os envolvidos.

5,5 MILHÕES

O valor do fundo Alcântara é, segundo o jornal ‘Público’, de 5,5 milhões de euros. Destes, cerca de 4,5 milhões terão sido obtidos através de devoluções ilícitas de impostos, relacionados com um esquema fraudulento.

Fonte: Correio da Manhã

07/12/2008 Posted by | Política: notícias | , , | Deixe um comentário

O Centrão Rosa-Laranja no seu melhor…: Dias Loureiro tentou vender gestora ao BIG

Fundo fraudulento. O envolvimento numa alegada fraude fiscal de um fundo de investimento imobiliário gerido por uma empresa de Dias Loureiro colocou de novo o político no centro de uma nova polémica. A empresa em causa, a Valor Alternativo, tem igualmente como accionista Jorge Coelho
Dias Loureiro e Rui Vilas, principais accionistas da Valor Alternativo, sociedade gestora do fundo Valor Alcântara que terá sido financiado de forma ilícita, tentaram vender a gestora ao Banco de Investimento Global (BIG), em Maio último. Apesar de ter sido assinado um memorando de entendimento, o acordo nunca se concretizou, apurou o DN. Caso tal ocorresse, Dias Loureiro passaria a ser consultor do BIG.

A Valor Alternativo surge agora envolvida numa alegada fraude fiscal, ao gerir o fundo Valor Alcântara, cujos seus três únicos participantes foram alvo de uma investigação, com a Polícia Judiciária e a administração fiscal a detectarem uma suspeita de fraude com IVA, superior a cem milhões de euros, segundo o Público de ontem. Com o desenrolar das investigações, a Valor Alternativo solicitou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), entidade que supervisiona a actividade, a suspensão do fundo Valor Alcântara, mas o DN sabe que tal não foi autorizado.

Dias Loureiro foi ontem à SIC explicar os diferentes passos das investigações, adiantando que os responsáveis da empresa de que é accionista e chairman “não fizeram nada de mal”, tendo decidido “dar a cara por quem trabalha naquela casa”. O político adiantou que “se sentiu mal” quando viu a notícia, referindo que actualmente a Valor Alternativo ainda gere o fundo, apesar do fundo Valor Alcântara estar confiscado pelo tribunal de Gondomar, onde decorre o processo.

Questionado quanto à ligação do seu sócio na sociedade gestora, Rui Vilas, ao Banco Português de Negócios (BPN) – Vilas trabalhou na Fincor, corretora comprada pelo banco -, Dias Loureiro considerou “uma maldade”, uma vez que o gestor já tinha saído da Fincor, quando esta foi vendida. “Trata-se de uma pessoa supercompetente”, referiu. O DN sabe que sociedade detida por Dias Loureiro vai processar o jornal Público.

O fundo Valor Alcântara tem como três únicos participantes Afonso da Silva Fernandes e sua mulher, Maria Eugénia, e ainda a Sedfer, empresa de reciclagem de resíduos detida por João Fernandes, Paulo Fernandes e a sociedade AS Fernandes.

Esta última tem sede em Palmela, sendo curiosamente neste concelho, em Poceirão, onde se encontram os principais activos (terrenos e prédios rústicos e urbanos) geridos pelo fundo. Trata-se de uma região de grande valor estratégico, devido à criação da plataforma logística e à passagem da linha de alta velocidade. Estes empresários terão obtido os imóveis integrados no fundo com reembolsos ilícitos de IVA, no valor de 4,5 milhões de euros, entre 1990 e 2004.

Num comunicado emitido sexta-feira, a sociedade gestora enuncia o desenrolar das investigações desde Novembro de 2007, esclarecendo que os seus gestores não são arguidos e estão impossibilitados de “promover uma efectiva gestão do património imobiliário do fundo”.

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07/12/2008 Posted by | Política: notícias | , , | Deixe um comentário

Ó querido o Centrão existe…eles entendem-se…: Paulo Martins – O “arco do poder”

O ministro dos Negócios Estrangeiros explicou finalmente por que assobiou para o lado no caso dos voos da CIA que terão feito escala em território nacional. “Seria totalmente irresponsável o actual Governo ter levantado a questão quando em causa estava o próprio presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que à data era primeiro-ministro português”, afirmou anteontem.

Luís Amado tem toda a razão. Durão, provisoriamente rebaptizado de José Manuel Barroso, deve ser poupado a incómodos. É o ponta-de-lança luso na União Europeia e nós enchemo-nos sempre de orgulho quando vemos um emigrante singrar na vida. Reabrir feridas antigas seria um tiro no pé. Tão grave como desenterrar as aventuras nocturnas de Cristiano Ronaldo, outro emigrante de sucesso, em terras de Sua Majestade – para usar o jargão do jornalismo desportivo.

Não é apenas uma questão de elegância o que está em causa, não senhor. Assegura Luís Amado que em política externa se conserva uma “tradição de consenso entre os vários partidos do arco do poder”. Algo traduzível nestes termos: em casa andamos todos às turras, mas mal pomos o pé na rua eliminamos quaisquer vestígios de violência doméstica e até damos as mãos, assim exibindo uma união de que há-de brotar força. Faz sentido esse consenso nas opções de fundo, que não podem flutuar nas ondas da circunstância. Na política de alianças ou na integração em espaços plurinacionais, como a União Europeia. No entanto, não há “consenso” que possa servir de justificação para impedir o esclarecimento cabal de casos como o dos voos da CIA, que manifestamente não se circunscreve ao campo da política externa.

Como cidadãos, assiste-nos o direito de saber se o Governo teve conhecimento da passagem pela base das Lajes de pelo menos um voo de Guantanamo para o Cairo, com um prisioneiro a bordo, como revela um relatório do Ministério da Defesa espanhol que acaba de ser divulgado. Temos o direito de saber se o Governo autorizou – e em que condições – o trânsito de aviões da CIA ou se as operações ocorreram à sua revelia.

Luís Amado, que se irrita sempre que o assunto volta à baila, entende que isso é dispensável. O melhor mesmo é deixar correr o marfim de “uma investigação em curso”. Não determinou a realização de um inquérito (ao contrário do Governo de José Luís Zapatero, que também prezará o “arco do poder”) porque respeita uma espécie de “pacto de não-agressão”. Seria “feio” – palavra de ministro – escarafunchar o Executivo de Durão em busca de indícios de colaboração no esquema que, garante Amado a pés juntos, não existem de todo.

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09/10/2008 Posted by | Política: artigos de opinião | , , , | Deixe um comentário